Muito pouco se encontra na literatura sobre um acompanhamento nutricional objetivando uma nutrição celular adequada. A maior parte das bibliografias se referem, ao indicar a alimentação dos pacientes operados, à consistência das dietas, à necessidade de mastigação exaustiva para o sucesso das cirurgias e à quantidade calórica e de gordura da dieta. Indiscutível que esses fatores são muito importantes, porém, para que se proporcione uma perda de peso efetiva e estável, ao mesmo tempo que se promova uma qualidade de vida gerando um bem estar físico, mental e emocional, é determinante se lembrar da individualidade bioquímica, da qualidade nutricional da alimentação e das suplementações nutricionais. Também é necessário ainda o cuidado para que estes nutrientes, tanto da alimentação quanto da suplementação estejam biodisponíveis, isto é, sejam efetivamente utilizados pelas células, e não que apenas sejam ingeridos, havendo o risco de trocar os problemas que existem com o sobrepeso com os riscos de desnutrição.
Só o profissional nutricionista tem embasamento para fazer o acompanhamento nutricional que deve se iniciar antes da cirurgia pois, um indivíduo que se submete à uma cirurgia bariátrica, seja ela qual for, já vem de uma serie de tentativas frustradas para emagrecer, submetendo-se a todos os tipos de desequilíbrios nutricionais, e na maior parte das vezes, enxerga na cirurgia o milagre procurado a vida inteira, achando que depois da operação não precisará mais de preocupar em fazer dieta. É determinante o acompanhamento nutricional para detectar erros alimentares existentes, carências nutricionais, interrelacionar os mesmos com os sintomas apresentados pelo paciente e esclarecer o papel do hábito alimentar adequado e dos nutrientes na saúde física, mental e emocional e também na prevenção das doenças e não simplesmente o “alimento como o que engorda ou emagrece”.
A própria cirurgia gera um estresse tanto físico, quanto emocional, levando à carências mais acentuada dos nutrientes que precisam gerenciar estes desgastes. Somando-se a estes fatores, a alimentação que se segue à cirurgia deve ser liquida e em pequenas quantidades, dificilmente atingindo até mesmo o metabolismo basal. Daí a necessidade em suplementar nutricionalmente, pois só com a alimentação fica inviável atingir um mínimo necessário dos nutrientes essenciais para manter as funções orgânicas.
Normalmente, nos dois primeiros dias, o paciente segue a rotina hospitalar com ingestão de líquidos como água, chás, água de côco ou sucos diluídos sem sacarose.
Seja qual for a técnica utilizada na cirurgia, a consistência da alimentação, que se segue à operação, deverá ser líquida, objetivando o não rompimento das suturas que levarão tempos variáveis para a cicatrização. A mudança gradual da consistência da alimentação também têm como objetivo “treinar” o paciente na mastigação e nas suas escolhas, ajudando-o a adaptar-se a um novo hábito alimentar, e não apenas fazer mais uma “dieta”. Este primeiro mês de alimentação mais líquida e cremosa também auxilia numa desintoxicação do organismo. Apesar de existir uma rotina alimentar pós-operatória, a mesma será sempre determinada pela individualidade bioquímica e social do paciente, adaptando o ideal à realidade para que as orientação sejam realmente seguidas. Às vezes, a mudança de consistência da alimentação tem que ser revista.
O ideal é que o paciente seja acompanhado mensalmente nos primeiros 6 meses, para depois, em conjunto com o mesmo estabelecer a freqüência do acompanhamento.
No café da manhã, lanches (manhã e tarde), usar sucos de frutos naturais (ou polpa congelada), vitaminas utilizando só frutas ou acrescentar legumes e verduras cruas. Nos intervalos das refeições (que varia dependendo da etapa do pós-operatório), hidratar-se muito bem (inclusive para se evitar formação de pedras nos rins), utilizando-se de água, água de côco, sucos diluídos e chás (ervas, flores e frutas). Evitar a utilização de produtos com alta quantidade de químicos como sucos de pacotinhos, isotônicos industrializado, gelatinas prontas, temperos prontos etc… É importante lembrar que o consumo de alimentos é extremamente limitado, portanto o pouco de “matéria-prima” que oferecemos deve ser de primeira qualidade.
No almoço e jantar utilizar um pouco dos alimentos de cada grupo, deixando a consistência adequada à cada etapa.
No primeiro mês de alimentação pós-cirurgica não há ingestão adequada de fibras, sendo determinante a suplementação de fibras solúveis, (por ex. goma guar) para manter a integridade funcional da parede gastrintestinal. Estas fibras não alteram nem a consistência nem o sabor dos alimentos, sendo de fácil aceitação pelo paciente. Além de evitar a atrofia do íleo e do cólon, as fibras solúveis também ajudam a retardar o esvaziamento gástrico, auxiliando na manutenção da glicemia.
Além dos pró e prébioticos e das fibras solúveis já comentamos, a alimentação e suplementação do paciente deve sempre manter os macros e micronutrientes em equilíbrio para manutenção das funções físicas, mentais e emocionais. Deve-se lembrar sempre que os nutrientes são a fonte natural de formação das moléculas que constituem e mantém o funcionamento adequado do nosso organismo. É muito comum pacientes pós cirúrgicos desenvolverem depressão ou mesmo, ter exacerbada uma ansiedade que não deixa ele “pensar” na hora de se alimentar, levando a constantes vômitos e diarréias, pois como já foi visto a mastigação adequada é determinante. Na maior parte dos casos estas alterações emocionais são funcionais isto é, ou há carências dos nutrientes que formam os neurotransmissores e neuromoduladores, ou não há energia suficiente para manter glicose regular para o sistema nervoso central, ou mesmo carência de lipídeos responsáveis pela condução dos impulsos nervosos, modulando a atividade neuronal. Portanto, cuidado nutricionalmente para se evitar o estresse fisiológico, existe uma alta possibilidade de se lidar melhor com o estresse emocional.
É importante considerar todo o estresse já comentado e o próprio emagrecimento que, juntamente com mobilização das gorduras, aumenta a liberação de metais tóxicos e geração de radicais livres. É fundamental a suplementação de nutrientes antioxidantes como Zn, Se, Mn, Cu, Vit. C, Alfatocoferol, Betacaroteno; Estes nutrientes também tem ação primordial em ativar o sistema imunológico.
É determinante a presença regular dos nutrientes precursores de neurotransmissores como Mg e Vit. B6, principalmente, assim como as vitaminas do complexo B como um todo. A vit. B3, por exemplo, preserva o triptofano para a formação da serotonina.
O cromo é essencial para o metabolismo das gorduras e dos carboidratos. Pacientes obesos apresentam freqüentemente uma resistência celular à insulina. A presença dos nutrientes que regulam estes processos como vanádio, cromo e fibras podem reduzir essa resistência, favorecendo uma produção adequada de energia, corrigindo as disglicemias e evitando a Síndrome X (Síndrome Plurimetabólica). A própria glicina usada no preparo dos quelatos, a taurina e o molibdênio são nutrientes essenciais para melhorar a eliminação de toxinas do organismo.
As vitaminas e minerais interagem o tempo todo. A suplementação mais adequada é aquela que leva todos esses fatores em consideração e seja a mais completa possível, de preferência um complexo de vitaminas e minerais, adequando as quantidades e promovendo uma sinergia entre estes nutrientes, e dos mesmos com os macronutrientes. É importante lembrar que a forma mais adequada de absorção dos minerais é na forma quelada pois aumenta a chance de absorção do mineral pois ele acaba sendo absorvido nas mesmas condições dos dipeptídeos, driblando os problemas gerados , por exemplo, pelas cirurgias desabsortivas e pela competição dos nutrientes com as drogas ingeridas em grande quantidade por esses pacientes, incluindo aquelas drogas que neutralizam o meio ácido do estômago.
Além de se preocupar com a quantidade da suplementação, precisa existir uma adequação para que o suplemento consiga ser ingerido, podendo estar na forma líquida, em pó para ser diluída ou em cápsulas bem pequenas para passar pelo estômago.
Provavelmente a suplementação vai ser mantida até o paciente atingir o seu melhor estado de saúde física, mental e emocional, sendo este tempo variável e determinado pela individualidade. Os pacientes que fizeram as cirurgias desabsortivas provavelmente vão sempre precisar de determinadas suplementações, principalmente dos nutrientes cuja absorção foram comprometidas na cirurgia.